Quando terminam de ler Vagabond, muitos leitores se perguntam: existe algo melhor do que isto? Será que outro autor conseguiu produzir uma história tão boa quanto esta? Bem, essa é fácil de responder: SIM! Em 1982, após concluir Domu, uma série de terror e ficção científica que ganhou o Nihon SF Taisho Award (prêmio de melhor ficção científica japonesa), Katsuhiro Otomo deu início ao seu mais famoso e adorado projeto: o mangá AKIRA. Serializado até 1990 e somando mais de 2.000 páginas, tornou-se praticamente o embaixador dos quadrinhos japoneses para o resto do mundo, transformando-se, ao lado de Dragon Ball, num ícone da cultura pop. O impacto foi tão grande que mesmo hoje é considerado um divisor de águas, sendo referência obrigatória para todos os aspirantes a mangakas. Até mesmo os gigantes da área confessam seu amor pela obra. Masashi Kishimoto, autor de Naruto, citou AKIRA como uma de suas maiores influências. Mas por que esse mangá é tão bom? Do que se trata, afinal? Arriscando minha sorte, tentarei explicar o fenômeno. Tudo começou com o desenvolvimento de uma pesquisa secreta, focada no estudo do psiquismo. Iniciada pelo governo japonês e supervisionada pelos militares, contava com a participação involuntária de crianças paranormais, espécimes do projeto. Mas foi tudo pelos ares quando o espécime 28 detonou sua, digamos, “bomba relógio”. Após a tempestade AKIRA é ambientado num Japão pós-apocalíptico, no ano de 2003, 38 anos após a destruição de Tóquio e o fim da 3° Guerra Mundial. A nova cidade, NeoTokyo, é tecnologicamente avançada e melhor urbanizada. Mas, por outro lado, também serve de abrigo para a decadência social e a corrupção política (o autor se inspirou no nosso país?). Adolescentes abandonam os estudos e se lançam à criminalidade e as drogas, perdendo-se em prostituição, vandalismo e brigas de gangues. Kaneda e Tetsuo, amigos de infância, juntos desde o orfanato, pertencem a uma gangue de motoqueiros. No começo da história, os dois estão pilotando nas proximidades da Cratera, o ponto central da explosão que destruiu a antiga Tóquio. Enquanto dirigem pela auto-estrada, aparece um garoto estranho, aparentemente perdido, com o número 26 estampado na mão direita. Tetsuo, incapaz de frear a tempo, vai de encontro a ele, em alta velocidade. E quando está prestes a atropelá-lo, sua moto explode sozinha, poupando a vida do garoto, mas ferindo severamente o piloto. Tetsuo é levado para o hospital, enquanto Kaneda e o resto da gangue, no dia seguinte, são repreendidos no colégio, por pilotarem numa área restrita. Deste ponto em diante, Kaneda e Tetsuo se separam, nunca mais voltando a ser amigos. Pois após entrar em contato com o garoto da auto-estrada, Tetsuo começa a desenvolver poderes paranormais. Isto chama a atenção dos militares, que o convidam a participar de um projeto especial, onde aprenderá a controlar a nova força. Começa então a contagem regressiva para o armagedon, uma vez que, com a aparição destes poderes, inicia-se uma interminável corrente de conflitos, que resultarão na 2° destruição de Tóquio (ou NeoTokyo). Receita para um mega hit Embora seja difícil enumerar as razões que justificam seu sucesso, é possível destacar algumas das qualidades mais evidentes em AKIRA. Começando pelo óbvio: o visual caprichado. A arquitetura dos edifícios, o cuidado com a infraestrutura (avenidas e calçadas proporcionais aos personagens, postes de energia com todos os cabos elétricos, cercas vivas posicionadas nos lugares certos, segundo mandam as normas da construção civil, e placas sinalizadoras dos mais variados tipos) e a obsessão em retratar veículos, armas e outras ferramentas mecânicas com realismo, exibindo todas as peças minúsculas que as compõem, faz você pensar que, antes de serem publicadas, as páginas precisavam da aprovação de um arquiteto, engenheiro civil e engenheiro mecânico. É um trabalho impecável que levanta a suspeita de que, talvez, o cenário fosse feito com fotos manipuladas. Na verdade, eu acho que é foto mesmo, pois não é possível um ser humano desenhar daquele jeito. Está perfeitinho, dentro da proporção e fiel à perspectiva, sem falha visível. Parece obra de computador. O ritmo narrativo é rápido, com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Os personagens nunca param de se mexer. Sempre tem algo a ser feito: um objeto a recuperar, uma pessoa a resgatar, um perseguidor a despistar ou um inimigo a enfrentar. As cenas de ação, retratadas em variados ângulos, desenrolam-se por muitas páginas, numa sequência bem estruturada de conflito, fuga, surpresa e dilemas. Em muitos momentos, os personagens são obrigados a se separarem e seguirem caminhos diferentes. Mas conforme se envolvem em confusões individuais, no final das contas, acabam se reunindo outra vez, seja intencional ou acidentalmente, concluindo de maneira inesperada seus conflitos. Um roteiro inteligente e encorpado, digno de competir com as atuais séries americanas. Os personagens são cheios de imperfeições humanas. São ambiciosos e, em muitos momentos, grosseiros, não levando desaforo pra casa. Preocupam-se com seus amigos, mas não ligam tanto para as outras pessoas. Agem mais com o cérebro do que com o coração, usando o bom senso e evitando os impulsos emotivos. Brigam pelo que é seu e não pensam duas vezes antes de matar alguém, caso seja questão de vida ou morte (situação constante em suas vidas). E mesmo cometendo essa violência, não discutem a moralidade de seus atos, nem os direitos de quem morreu ou se machucou. Pois, como o fazem em nome da sobrevivência, poupam-se de conflitos internos e culpa. Afinal, pra ser sincero, os caras se machucam e morrem porque pedem por isto. Em resumo: são pessoas adoráveis ^^ Widescreen AKIRA virou filme em 1988. Curiosamente, 2 anos antes da conclusão do mangá. Foi escrito e dirigido pelo próprio Katsuhiro Otomo e custou US$11 milhões, rendendo mais de US$550 milhões. Assim como a versão mangá redefiniu os quadrinhos japoneses, o filme representou um marco na indústria das animações. Usava mais quadros por segundo do que a maioria, promovendo movimentos fluídos. E os lábios se mexiam acompanhando o som das palavras, dando maior realismo aos diálogos. Influenciou e ainda influencia o trabalho de muitos animadores. Embora apresente uma versão resumida do mangá, deixando de fora um monte de eventos importantes e cortando a participação de muitos personagens (mesmo porque, não teria como comprimir 2.000 páginas de mangá num único filme), vale MUITO A PENA assisti-lo. É tão impecável quanto o quadrinho. O vídeo abaixo é uma das melhores cenas. Tetsuo assume seu antagonismo e se rebela contra os militares. Anarquia absoluta!! Quero mais!! Quando AKIRA chega ao fim, ficam algumas perguntas. E da maneira como foi concluído, seria até possível montar uma continuação. Você fica curioso em saber o que acontecerá com os personagens dali em diante. Infelizmente, Katsuhiro Otomo não parece ter intenção de fazer isto. Após AKIRA, produziu mais alguns trabalhos, como The Legend Of Mother Sarah, SOS Tokyo Metro Explorers e Batman: Black & White #4. Mas sua principal paixão era o cinema, de tal maneira que, de 1990 em diante, dedicou-se mais a carreira de diretor do que a de mangaká. Contudo, há uma esperança. Atualmente, está sendo filmada uma adaptação live-action do mangá, produzida pelo Otomo mesmo. Dependendo da repercussão, pode até ressuscitar o fenômeno de 20 anos atrás, fazendo com que, no mínimo, seja publicado um One-Shot, revelando o futuro de Kaneda e Kei. Quem sabe o próprio live-action não faz isto? | ||||
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domingo, 10 de outubro de 2010
Categories: Akira, download, filme, mangá
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